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Aleijadinho & Período da mineração

Aleijadinho & Período da mineração

Aleijadinho, chamado Antônio Francisco Lisboa, foi um entalhador, escultor e arquiteto que viveu em Vila Rica durante o período da mineração, no século XVIII. Ficou notabilizado pela sua arte sacra e foi um dos grandes mestres na escultura do período. Os últimos anos da vida de Aleijadinho ficaram marcados por uma doença que lhe trouxe muito sofrimento.

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Juventude

Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, nasceu em Ouro Preto (Vila Rica, na época), na primeira metade do século XVIII. Existe uma polêmica referente a sua data de nascimento. Acredita-se que o 29 de agosto seja atribuído ao dia em que nasceu apenas como uma data aproximativa. Sobre o ano, existem duas propostas que são defendidas por estudiosos. Uma delas fala que Aleijadinho nasceu em 1730, e ela se baseia na sua certidão de batismo; a outra fala que ele nasceu em 1738, e é baseada na sua certidão de óbito.

Aleijadinho era filho ilegítimo de Manuel Francisco Lisboa, um português que se mudou para Minas Gerais na década de 1720. Ele foi fruto de uma relação ilegítima de seu pai com Isabel, uma escravizada africana de quem pouco se sabe. Aleijadinho, portanto, nasceu escravo e era negro, mas foi alforriado pelo seu pai.

Seu pai foi quem lhe ensinou o ofício que gravou o seu nome como um dos maiores artistas da história brasileira. Manuel Francisco Lisboa era um entalhador e arquiteto que fazia a função de mestre de obras, atuando na contratação de pessoal para as grandes obras que aconteciam em Minas Gerais.

Aleijadinho teve quatro meio-irmãos, frutos do casamento de seu pai com uma mulher de nome Maria Antônia de São Pedro. Aleijadinho cresceu no meio desses irmãos, mas quando seu pai faleceu, ele não teve direito à herança porque era um filho ilegítimo. O legado paterno que recebeu foi a profissão que ele levou por toda a sua vida.


Encontrar ouro no Brasil sempre foi o grande anseio dos portugueses, e somente no final do século XVII que esse minério foi encontrado em grande quantidade. Essa descoberta aconteceu mais precisamente em 1695, quando paulistas avistaram ouro no Rio das Velhas, nas proximidades de Sabará e Caeté, segundo o historiador Boris Fausto|1|.

A descoberta de ouro atraiu pessoas de todas as partes de Portugal, e, claro, colonos estabelecidos em várias partes do Brasil afluíram para as Minas Gerais. Entre 1700 e 1760, cerca de 600 mil pessoas vieram de Portugal para o Brasil, atraídas pela possibilidade de enriquecerem-se com a exploração do ouro|1|.

A região de Minas Gerais desenvolveu-se, e núcleos urbanos importantes começaram a formar-se nessa capitania. A cidade de Vila Rica estabeleceu-se como centro administrativo de Minas Gerais, e, no século XVIII, toda a comarca de Vila Rica chegou a possuir 80 mil habitantes, dos quais cerca de 20 mil moravam dentro da própria cidade.

O auge da mineração em Minas Gerais estendeu-se de 1733 a 1748, e, a partir da década de 1750, essa atividade entrou em decadência. As cidades mineiras formaram sociedades complexas com uma vida urbana muito agitada, e não somente mineradores estabeleceram-se nelas, mas comerciantes, fazendeiros, advogados, militares, arquitetos, artesãos etc.

O ouro atraiu toda essa gente para Minas Gerais, e muitos prosperaram atendendo as demandas e necessidades da população local. Os próprios comerciantes exploravam a carestia de produtos de necessidade básica, e, assim, tudo saía muito mais caro na região. As historiadoras Lília Schwarcz e Heloísa Starling apontam que, no começo do ciclo da mineração, uma galinha, que valia 160 réis em São Paulo, nas Minhas Gerais valia 4000 réis, por exemplo|2|.

Muitas das mercadorias vinham de São Paulo, mas sobretudo do Rio de Janeiro, pois uma estrada ligando-o a Vila Rica foi estabelecida e chamava-se Caminho Novo. Além do crescimento econômico e urbano, Minas Gerais passou por um grande desenvolvimento cultural e artístico que permitiu que nomes como Aleijadinho se notabilizassem.

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A arte nas Minas Gerais

Sabemos que grande parte do ouro extraído de Minas Gerais foi parar em Portugal ou nos cofres ingleses, mas uma parte dele permaneceu aqui. Esse ouro gerou prosperidade e permitiu que um notável desenvolvimento artístico e intelectual acontecesse. Primeiramente no campo intelectual, isso porque os filhos da elite mineira eram enviados para estudar na Europa.

Lá eles tiveram contato com as discussões intelectuais mais atualizadas e que existiam em locais como Coimbra, por exemplo. Esse desenvolvimento intelectual permitiu que as artes em Minas Gerais avançassem, e assim podemos destacar a poesia da época, que possuiu nomes que marcaram o Brasil, como Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto.

A expressão artística que mais marcou o período da mineração foi o barroco mineiro, dominando a escultura e arquitetura da época. Foi o desenvolvimento do barroco em Minas Gerais que notabilizou nomes como Aleijadinho.

O desenvolvimento desse estilo tem relação com as associações religiosas leigas que se estabeleceram na capitania. Como irmandades, ordens terceiras e confrarias de leigos, essas associações surgiram no vácuo deixado pelas ordens religiosas, proibidas de instalar-se em Minas Gerais pela Coroa portuguesa.

Essas associações, que também prosperaram, utilizaram seu dinheiro para investir na construção de igrejas, muitas das quais foram feitas em locais estratégicos, como as partes mais altas das cidades. Para a construção e decoração dessas instituições, foi contratada uma série de arquitetos, escultores, talhadores e pintores.

Grandes obras de Aleijadinho

Os 12 profetas do adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos é uma das grandes obras de Aleijadinho.[1]

O primeiro projeto de Aleijadinho remonta a 1752 e foi o chafariz do Palácio dos Governadores, em Vila Rica. Alguns anos depois, em 1758, ele trabalhou em outro chafariz, o do Hospício da Terra Santa. Em 1760, Aleijadinho já era considerado mestre no seu ofício, e, a partir daí, ele ficou bastante conhecido, com seu trabalho sendo muito requisitado.

O trabalho feito por ele e por outros escultores e talhadores da época funcionava na base da encomenda. Uma instituição religiosa encomendava um tipo de trabalho, e Aleijadinho passava-lhe o preço pela sua mão de obra. Em geral, seu trabalho custava meia oitava de ouro por dia (cerca de 600 réis), mas, em alguns casos, ele poderia cobrar mais caro que isso. Existem relatos de que ele chegou a cobrar uma oitava (1200 réis) por dia de serviço.

Os dois principais materiais usados por Aleijadinho eram a pedra-sabão, utilizada nas suas esculturas, e o cedro-rosa, usado nas esculturas de madeira que ele talhava e que ficavam no interior das igrejas. Sua arte, em grande parte, incluiu-se no que é conhecido como arte sacra, por abordar temas religiosos.

O trabalho de Aleijadinho é considerado um dos grandes símbolos do barroco mineiro, mas especialistas em história da arte apontam que grande parte das obras do escultor mineiro associa-se com outro estilo: o rococó.

A partir da década de 1760, Aleijadinho prosperou e conseguiu montar uma oficina onde mantinha três escravizados que o ajudavam em seus trabalhos e onde contratava outros escultores que eram aprendizes para auxiliá-lo nas encomendas que recebia.

Aleijadinho trabalhou por diversas cidades de Minas Gerais, e suas obras estão em Vila Rica (Ouro Preto), São João del-Rei, Tiradentes, Congonhas, Sabará, Caeté, Mariana, entre outras. Os especialistas sempre destacam que suas duas principais obras foram:

  • Igreja de São Francisco de Assis, igreja em Ouro Preto, que contou com projeto e decoração elaborados porAleijadinho;
  • Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, igreja, em Congonhas, em que Aleijadinho construiu os 12 profetas no adro e esculturas que retratam a Paixão de Cristo.

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